Repleta de desafios, a vida das mulheres não é fácil, especialmente quando chega a fase da maternidade. Mas as mães estão dando conta do recado e, hoje, fazem parte do perfil de profissionais mais dedicados do mercado de trabalho
Divididas entre o cuidado com o
rebento e o sucesso profissional, elas assumem uma dupla jornada. Os papais até
ajudam, mas, não raro, a culpa por deixar o filho faz parte deste processo, que
a impulsiona a se sacrificar ainda mais para dar conta de tudo. No trabalho,
para suprir suas ausências, estão sempre abertas a assumir mais
responsabilidades e desafios.
Uma vida, dois amores. Como
conciliar tudo? O que determina se a mulher irá se sobressair aos desafios é a
capacidade de aceitar e administrar as mudanças. É o que afirma a psicóloga e
gerente de Recursos Humanos Elza Alvarenga, que é mãe de três filhos já
adultos. “Tudo muda e nem todo mundo está preparado isso”, afirma. Com os
filhos nos braços, mães acordam mais cedo, restringem suas vidas sociais, e
passam o lazer para horários alternativos, perdem enfim um pouco de sua
liberdade.
“A aceitação da nova condição é o
principal. Depois disso, as coisas vão se encaixando e esse é o primeiro passo
para administrar a maternidade de forma que ela gere ganhos para todos os
aspectos da vida, inclusive no trabalho”.
Em sua
avaliação, a maternidade tem sido o grande impulso para as mulheres no mercado
de trabalho. Em nome do bem estar dos filhos, aumentam seu grau de
comprometimento em seus papeis profissionais. Por outro lado, em casa,
desenvolvem paciência, resiliência e outras habilidades emocionais que
repercutem no mundo corporativo. Com isso, estão colhendo resultados.
“Observamos hoje que elas fazem parte do grupo dos profissionais mais
dedicados”, diz a especialista em recursos humanos.
Esse comportamento, entretanto, é um
reflexo das mudanças pelas quais passam as instituições familiares. “O
casamento em si mudou muito. Antes, o patriarca era quem assumia o sustento da
família. Hoje, as mulheres estão mais independentes e tudo se divide. Além
disso, o índice de separação é muito alto e as mães sentem a necessidade de se
dedicarem para dar mais condições para os filhos, que, com o divórcio, passam a
depender delas”. Em 2013, houveram 324,9 mil divórcios no Brasil, segundo o
último cálculo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O
Centro-Oeste, ainda de acordo com o levantamento, despontou como região com
maior taxa de dissoluções: 3,1 a cada mil habitantes.
Bem-sucedida na vida e no trabalho
Mãe há 17 anos, a coordenadora de
recebíveis da Consciente Construtora e Incorporadora Eda Janina Mendes Carneiro
é um dos exemplos de sucesso, mas explica que “não foi fácil” manter o pique.
Com 22 anos de casa, ela começou como auxiliar de contabilidade e engravidou de
Lúcio quando ainda tinha apenas o Ensino Médio. De acordo com a mãe, o filho
foi uma transformação em sua vida, pois foi ele quem a presenteou com a ambição
de ter uma vida melhor e com a vontade de batalhar por isso.
Quando o filho nasceu, a competente
Eda já ocupava a posição de tesoureira da empresa, mas, “de lá pra cá”,
conquistou duas promoções, passando de coordenadora de RH para coordenadora de
suprimentos até chegar ao posto atual. “Eu queria ir um pouco além do segundo
grau, mas a vinda de Lúcio demandou mais empenho de minha parte, já que eu
queria ser capaz de dar o melhor para ele. Foi quando eu optei por fazer um
curso superior. Ele, como sempre foi um chefe exigente, acabou impulsionando
minha carreira”, expõe entre risos.
Batalha em nome do amor
O início foi turbulento, mas repleto de felicidade.
Quando descobriu a gravidez, Eda estava fazendo um tratamento para os ovários.
Os médicos diziam que ela teria problemas para engravidar e Eda decidiu que não
precisaria fazer uso dos anticoncepcionais. No entanto, com três anos de casada
veio a surpresa. “A primeira coisa que veio em nossa cabeça foi: e agora? Era
uma mistura de desespero com felicidade. Foi um rito de passagem, foi como se
passássemos da condição de dependentes para a de responsáveis em um estalar de
dedos”, lembra.
Neste momento, Eda decidiu que era
preciso deixar a “zona de conforto” e passar a fazer planejamentos a longo
prazo. Era preciso crescer na empresa e ainda mais dedicação. Uma fase de
exames, consultas e novos problemas estavam por vir e Eda tinha que conciliar
tudo isso, sem deixar o empenho profissional de lado. Após os seis meses de
licença maternidade – dois a mais do que era exigido na época – Eda deu início
a uma rotina cansativa, mas que enfrentava com prazer, pelo filho. “Por morar
longe da empresa, tinha que deixar meu filho com minha mãe e sair muito cedo de
casa, de ônibus, para o trabalho”, afirma.
Na época, Eda percorria, de ônibus,
cerca de 13 quilômetros de sua residência, na Vila Redenção, até a sede da
empresa, que ficava no Setor Urias Magalhães. “Eu, literalmente, atravessava a
cidade diariamente, o que diminuía meu tempo com o Lúcio”. Apesar disso, ela
revela que a Consciente ajudou a amenizar as dificuldades. Segundo a mãe, a
construtora disponibilizou carro e motorista para que a amamentação fosse feita
da forma adequada. “Por isso, eu tinha carga horária reduzida. Então eles me
ajudaram muito. A forma de retribuir foi não deixando o nível cair”.
Quando Lúcio completou dois anos de
vida, Eda sentiu que era o momento de investir na profissão. Resolveu dar
continuidade aos estudos e partiu para a graduação em Administração de
Empresas. “As oportunidades estavam surgindo e a gente tinha que ter o perfil
para atender as exigências”. Nessa época, no entanto, as coisas ficaram ainda
mais difíceis. “Só via meu filho dormindo: de manhã, quando eu saía bem cedo e
à noite, depois da faculdade. Dos dois aos oito anos de idade, eu via o Lúcio,
praticamente, aos finais de semana. Foi muito difícil para nós, então optamos
por ter um filho só, para poder dar mais atenção”.
Para ela, o que mais motiva a vencer
as dificuldades e manter o profissionalismo é simples fato de ser mãe. “Eles
dependem de nós, então eles são a motivação. É como se eles fossem os nossos
patrões. Tudo que fazemos é voltado para o bem-estar de nosso filho. A vontade
de que eles tenham uma vida melhor que nossa dá energia e força para que a
gente possa matar um leão por dia”, explica. Eda ressalta ainda que nada
substitui a relação de mãe e filho. “É o vínculo máximo que uma pessoa tem com
outra. É amar 24h por dia, é querer estar presente, acompanhar a evolução. É
por isso que a gente se dedica tanto ao trabalho, pois é por meio dele que
podemos dar uma vida melhor ao nosso filho”, completa.
Ao olhar para trás, Eda garante que
cada gota de suor que caiu teve um propósito e que sente as gratificações desse
empenho, em relação à criação de Lúcio e à carreira, até os dias atuais. “Todo
o esforço é recompensado diariamente pela convivência e o relacionamento com
filho e marido. É muito bom ver o que conquistamos e que acertamos na criação
do nosso filho. Nós o transformamos em uma pessoa humilde e que gosta de
dividir as coisas. Estamos nesse patamar por causa dele, que é o equilíbrio do
nosso lar. Enquanto o pai é estressado, eu sou doida e é ele que nos traz a
normalidade”, conclui com ternura.
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