A cena de um artista entretido com os
pincéis e paleta de tintas, absorvido pela cena retratada nos parques e praças
e cercado de pessoas, é muito comum nos quadros de pintores clássicos e
impressionistas dos séculos 17 e 18. Parte da cultura clássica arraigada na
mentalidade dos povos europeus, especialmente na França, a pintura ao vivo tem
o poder de parar o transeunte e promover a contemplação. A curiosidade é
despertada pela forma que adquire vida aos poucos, a cada pincelada do artista
no quadro.
Charles, artista plástico goiano de
41 anos, está vivendo esse momento na Casa Cor Goiás 2013. O desafio dele é
reproduzir uma pintura magnífica da celebridade mais retratada do final do
século 18: Jeanne Antoinette, a Marquesa ou Madame de Pompadour. Rica, sempre
deslumbrantemente vestida, dona de personalidade magnética e amante de um nobre
francês, ela foi retratada em várias situações por vários pintores, como
François Boucher. Charles está pintando uma cena de Pompadour recostada numa
cadeira, descansando de uma leitura e vestida com um vestido verde inigualável
de tantos detalhes.
A Beleza da Arte
“Essa é uma temática do academicismo
francês, trabalhada em pelo menos sete camadas de tintas, muitos tons e
sombras, efeitos de luz, detalhes de composição e sobreposições. Requer muita
concentração e, por isso, não é comumente realizada ao vivo”, explica
Charles. Mas ele aceitou o desafio para divulgar a arte e levar as
pessoas a contemplar um pouco da essência artística que, segundo ele, vem se
perdendo.
O
convite partiu do arquiteto Alexandre Milhomem, que assina o Estúdio
Parisiente, ambiente onde Charles realiza seu trabalho todos os dias. Segundo o
arquiteto, a ideia é que os visitantes relembrem todo o sentimento de uma época
onde o trabalho era somente manual, rico em detalhes, objetivando o conforto e
a beleza. “No teto, estão quadros com pinturas clássicas exatamente para
mostrar como a contemplação e a imaginação eram valorizados”, diz Milhomem.
Curiosidade
A todo momento, Charles é abordado por
algum visitante, encantado com a semelhança da reprodução com a pintura
original. Ele é atencioso e explica os vários estudos necessários para tentar
ficar bem próximo do quadro original. “Goiânia é carente desse conhecimento. Na
França as pessoas vão às galerias com uma lupa para olhar de perto os detalhes
da obra”. Charles, que expõe seus trabalhos na Galeria Época, tem um projeto de
divulgar a arte nos parques da capital. “Vou realizar uma pintura ao vivo com
modelo no Parque Flamboyant quando terminar o trabalho na Casa Cor Goiás. Será
no estilo impressionista, mais adequado para pinturas ao ar livre”, explica.
Para terminar o quadro na Casa Cor
Goiás, Charles vai levar todos os dias da mostra (40 dias), trabalhando de
quatro a seis horas por dia, inclusive em feriados e finais de semana. Segundo
ele, isso não é nada perto do que os artistas clássicos que ele admira - como
Michelângelo ou Rembrandt - levavam para concluir suas obras, às vezes vários
anos ou até uma vida inteira. “A pintura nos séculos 17 e 18 era um estilo de
vida, a tradução de um espírito de época, a própria concepção da arte”,
finaliza.
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