quarta-feira, abril 26, 2017

Uso de cintas compressivas pós-cirurgia plástica podem estar com dias contados

Pesquisas mostram que a compressão excessiva na região da virilha e do
abdômen pode prejudicar a circulação. Fernando de Nápole acredita
que técnicas de reabilitação podem substituir uso do acessório.



Amplamente conhecidas das mulheres que querem se livrar das “dobrinhas” e melhorar o contorno do corpo, as cintas compressivas viraram uma das maiores aliadas para quem não tem recurso financeiro ou coragem para realizar uma cirurgia plástica. No ano passado o uso do acessório durante a prática de atividade física foi condenado por especialistas - após celebridades divulgarem fotos usando o acessório em seus treinos -, e agora pesquisas recentes desenvolvidas pelos cirurgiões plásticos da Escola Paulista de Medicina, mostram que a compressão excessiva também pode ser prejudicial no pós-operatório de abdominoplastia e lipoaspiração, sob risco de causar trombose.
De acordo com o cirurgião plástico e preceptor do Serviço de Residência Médica em Cirurgia Plástica do Hospital Alberto Rassi (HGG), Fernando de Nápole, há cerca de duas décadas utilizava-se o ‘engessamento’ do abdômen e das mamas, tal como fazem os ortopedistas nas fraturas de membros inferiores. Posteriormente, foram utilizadas as bandagens com ataduras e a evolução chegou às cintas abdominais. “Elas promovem compressão da região operada, ajudando a diminuir o inchaço, a dor e as marcas roxas no pós operatório e também facilitam a higiene no pós operatório”, afirma.
Segundo estudos, o uso das cintas compressivas tem sido questionado, pois a compressão excessiva e localizada em determinados pontos do abdômen pode acarretar redução do fluxo sanguíneo arterial e venoso, bem como estagnação do fluido dos vasos linfáticos. “Publicações científicas recentes têm apontado um aumento no índice de tromboembolismo pulmonar por compressão excessiva da cinta na região da virilha e do abdômen, o que acarreta má circulação venosa dos membros inferiores e subsequente trombose. Seu mau uso, caracterizado por compressão exagerada, provoca baixa na irrigação da pele, causando necrose. Outro fator a considerar seria a persistência do inchaço por causa da compressão excessiva dos vasos linfáticos”, avalia Fernando, que é membro especialista da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP).
De maneira geral, as cintas transmitem certa segurança aos pacientes, que se sentem protegidos pela malha. Contudo, novas técnicas de reabilitação e drenagem linfática desenvolvida por fisioterapeutas têm sido fundamentais na redução de edemas e fibroses e no estímulo à perfusão local de pele, como é o caso da Liberação Tecidual Funcional (LTF), realizada pela fisioterapeuta dermatofuncional Jéssika Campos. “A drenagem linfática é uma técnica eficaz para tratamentos de edemas, que são líquidos. Mas para tratar fibroses é uma opção limitada. Nesses casos, a LTF é o mais indicado, pois é uma terapia manual, desenvolvida a partir de conceitos que têm como base pesquisas científicas na área de Tensão Mecânica x Reparo Tecidual”, afirma Jéssika.

Dr. Fernando de Nápole

A principal vantagem da técnica é reorganizar as estruturas dos tecidos, devolvendo funcionalidade e flexibilidade, favorecendo o metabolismo normal. “A aplicação dessa técnica é fundamental para evolução do paciente de cirurgia plástica, quando os tecidos sofrem um trauma mecânico e evoluem com a formação de tecido com estrutura alterada precisando ser reorganizados para que se obtenha resultados estéticos e funcionais. Vale lembrar que tratamentos que tenham o efeito fisiológico de incentivar a formação de colágeno, na verdade estarão formando ainda mais tecido cicatricial, produzindo e agravando ainda mais fibroses”, explica a fisioterapeuta.

Para o cirurgião plástico, com essas técnicas de reparação tecidual, as cintas ficariam em segundo plano e sequer influenciariam diretamente no resultado estético desejado. “A ciência médica possui verdades efêmeras. Toda e qualquer novidade deve ser avaliada com cautela. Atualmente, ainda faço uso das malhas, deixando bem claro que elas devem ser contensivas e não compressivas. Entretanto, os estudos nos norteiam para um novo paradigma: abandonar o uso das cintas. Devo, em breve, acompanhar essa evolução”, finaliza.

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