Pesquisas mostram
que a compressão excessiva na região da virilha e do
abdômen pode
prejudicar a circulação. Fernando de Nápole acredita
que técnicas de
reabilitação podem substituir uso do acessório.
Amplamente conhecidas das mulheres que querem se livrar das “dobrinhas”
e melhorar o contorno do corpo, as cintas compressivas viraram uma das maiores
aliadas para quem não tem recurso financeiro ou coragem para realizar uma
cirurgia plástica. No ano passado o uso do acessório durante a prática de
atividade física foi condenado por especialistas - após celebridades divulgarem
fotos usando o acessório em seus treinos -, e agora pesquisas recentes
desenvolvidas pelos cirurgiões plásticos da Escola Paulista de Medicina,
mostram que a compressão excessiva também pode ser prejudicial no
pós-operatório de abdominoplastia e lipoaspiração, sob risco de causar
trombose.
De acordo com o cirurgião plástico e preceptor do Serviço de Residência
Médica em Cirurgia Plástica do Hospital Alberto Rassi (HGG), Fernando de
Nápole, há cerca de duas décadas utilizava-se o ‘engessamento’ do abdômen e das
mamas, tal como fazem os ortopedistas nas fraturas de membros inferiores.
Posteriormente, foram utilizadas as bandagens com ataduras e a evolução chegou
às cintas abdominais. “Elas promovem compressão da região operada, ajudando a
diminuir o inchaço, a dor e as marcas roxas no pós operatório e também
facilitam a higiene no pós operatório”, afirma.
Segundo estudos, o uso das cintas compressivas tem sido questionado,
pois a compressão excessiva e localizada em determinados pontos do abdômen pode
acarretar redução do fluxo sanguíneo arterial e venoso, bem como estagnação do
fluido dos vasos linfáticos. “Publicações científicas recentes têm apontado um
aumento no índice de tromboembolismo pulmonar por compressão excessiva da cinta
na região da virilha e do abdômen, o que acarreta má circulação venosa dos
membros inferiores e subsequente trombose. Seu mau uso, caracterizado por
compressão exagerada, provoca baixa na irrigação da pele, causando necrose.
Outro fator a considerar seria a persistência do inchaço por causa da
compressão excessiva dos vasos linfáticos”, avalia Fernando, que é membro
especialista da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP).
De maneira geral, as cintas transmitem certa segurança aos pacientes,
que se sentem protegidos pela malha. Contudo, novas técnicas de reabilitação e
drenagem linfática desenvolvida por fisioterapeutas têm sido fundamentais na
redução de edemas e fibroses e no estímulo à perfusão local de pele, como é o
caso da Liberação Tecidual Funcional (LTF), realizada pela fisioterapeuta
dermatofuncional Jéssika Campos. “A drenagem linfática é uma técnica eficaz
para tratamentos de edemas, que são líquidos. Mas para tratar fibroses é uma
opção limitada. Nesses casos, a LTF é o mais indicado, pois é uma terapia
manual, desenvolvida a partir de conceitos que têm como base pesquisas
científicas na área de Tensão Mecânica x Reparo Tecidual”,
afirma Jéssika.
Dr. Fernando de Nápole |
A principal vantagem da técnica é reorganizar as estruturas dos tecidos,
devolvendo funcionalidade e flexibilidade, favorecendo o metabolismo
normal. “A aplicação dessa técnica é fundamental para evolução do paciente de
cirurgia plástica, quando os tecidos sofrem um trauma mecânico e evoluem com a
formação de tecido com estrutura alterada precisando ser reorganizados para que
se obtenha resultados estéticos e funcionais. Vale lembrar que tratamentos que
tenham o efeito fisiológico de incentivar a formação de colágeno, na verdade
estarão formando ainda mais tecido cicatricial, produzindo e agravando ainda
mais fibroses”, explica a fisioterapeuta.
Para o cirurgião plástico, com essas técnicas de reparação tecidual, as
cintas ficariam em segundo plano e sequer influenciariam diretamente no
resultado estético desejado. “A ciência médica possui verdades efêmeras. Toda e
qualquer novidade deve ser avaliada com cautela. Atualmente, ainda faço uso das
malhas, deixando bem claro que elas devem ser contensivas e não compressivas.
Entretanto, os estudos nos norteiam para um novo paradigma: abandonar o uso das
cintas. Devo, em breve, acompanhar essa evolução”, finaliza.
Nenhum comentário:
Postar um comentário